quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Fábula: Declínio e Queda de uma Máscara

 

Era uma vez, nas coxias de um night-club, uma máscara do Groucho Marx que, cansadíssima de ser utilizada por comediantes que a colocavam para se anunciar groucho-marxistas – como se tivessem acabado de inventar a piada –, resolveu se disfarçar, tirando os óculos e tascando um aplique no bigode, para passar despercebida e não penar mais.
Até um comediante achá-la a cara do Nietzsche, passar a mão dela, colocá-la e dizer Deus morreu e eu também não ando me sentindo muito bem! A máscara, desesperada, conseguiu escapulir, tirou a sobrancelha e radicalizou no aplique, com tintura branca.
Só que aí foi pega por um comediante que a colocou e disse Quem morreu agora, Nietzsche? Quem?? Na terceira tentativa de fuga, a máscara tentou se recompor mas só teve tempo de colocar de volta a sobrancelha.
Isso porque um humorista passou a mão nela para usá-la dizendo Pronto, agora sou o Marx original. Chupa, Groucho! Mais uma vez a máscara conseguiu fugir – e finalmente voltou à sua primeira configuração.
Mas aí o night-club foi alugado por uma noite para uma troupe de stand-up brasileiro. A máscara ficou lá na coxia mesmo, preterida por centenas de alusões a viados, empregadas, nordestinos, gordos, anões, louras burras e cornos. A máscara acabou se sentindo abandonada. Tem gente que nunca, nunca está satisfeita.