tom o'bedlam
domingo, 15 de outubro de 2017
(Replay de 2007, atendendo a pedidos) SE OS DIÁLOGOS DE PLATÃO FOSSEM PELO MSN
(Equécrates acaba de entrar)
Equécrates diz:
Falae, meu.
Fédon diz:
Falae, maluco. E a heuristica, blz?
Equécrates diz:
Mto silogismo na parada, fallow? Olhae: diz q o blog do Socrates tah fora do ar.
Fédon diz:
Issae. O Plataum disse q ele se fodeu pq tava fazendo download daqueles aplicativos.
Equécrates diz:
Q aplicativos, meu?
Fédon diz:
Isomorfismo, metempsicose, governo aristocratico. Tudo pesado demais.
Equécrates diz:
:-O
Fédon diz:
Mto loko. O Simias ateh mandou um comment pro blog dele avisando pra mudar de provedor, q o atual naum ia suportar. Mas o Socrates naum quis ouvir.
Equécrates diz:
Q provedor era, meu?
Fédon diz:
Osonzedeatenas.com. Naum suporta esses tipos de aplicativo. Detona mesmo.
(Cebes é adicionado à conversa)
Cebes diz:
Falae, galera.
Fédon diz:
Falae, maluco.
Equécrates diz:
Tudo blz, meu?
Cebes diz:
Vcs viram q um virus fodeu o blog do Socrates?
Fédon diz:
Perae, que virus? Naum foi o provedor q detonou?
Cebes diz:
Naum, o Plataum me fallow q foi virus.
Fédon diz:
Pois pra mim o Plataum contou outra historia, porra.
Equécrates diz:
K pra nos, esse cara toda hora tah com uma versaum diferente.
Fédon diz:
Eh um peripatetico fofoqueiro.
Cebes diz:
Sofista babaca. E ainda vive dizendo q era o maior chegado do Socrates.
Fédon diz:
Quer saber? Naum escuto mais ele.
Cebes diz:
Nem eu. Vou dar o maior gelo, fallow?
Equécrates diz:
Mas pelo menos ele contou q virus foi?
Cebes diz:
Naum soube dizer se foi o cicuta.exe ou o cavalodetroia.exe.
Equécrates diz:
Deve ter sido o cicuta. Pro cavalo de troia jah tem antivirus.
Fédon diz:
Eh, ele jah eh antigo. Foi invençao daquele spammer cegueta, o Homero. Deu um pow danado no blog do Priamo, lembram?
Equécrates diz:
:-D
Cebes diz:
Huahuahuahuahuahuahuahua
Fédon diz:
Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
(Platão acaba de entrar)
(Fédon, Equécrates e Cebes podem não responder porque seu status está definido como ausente)
quarta-feira, 25 de setembro de 2013
Brevíssimo conto sobre um conto
Diz que uma vez um conto criou coragem, resolveu virar romance e foi ao cinema.
- Ninguém me segura – dizia ele, ostentando seus parágrafos topetudos, seus diálogos audaciosos, seus maneirismos impertinentes.
Aí ele chegou, comprou ingresso e foi entrando, mas o porteiro o barrou:
- Esse filme é pra maiores.
- Sou um romance – arrotou o conto.
- Mm – fez o porteiro, olhando-o de alto a baixo. – Sei não. Você me parece um conto. Dos pequenos.
- Ah, essa diferenciação é muito subjetiva. Você mede uma história pelo número de páginas ou pela abrangência do conteúdo? Tem romances que não passam de um conto estendido. Tem contos são romances concisos.
O porteiro nem esperou para dizer:
- Olha. Não quero problemas com o juizado. Pelas características formais você é um conto, e esse filme é proibido para menores, ponto. – aqui o porteiro até enrubesceu muito de leve, pela rima involuntária.
- Ponto uma vírgula – disse o conto, já fazendo valer a espirituosidade tão característica de seus diálogos. – “As Neves do Killimanjaro” é um romance disfarçado de conto. “O Deserto dos Tártaros” é um romance que caberia muito bem nas poucas páginas de um conto. E aí?
Enquanto isso a fila desatava a crescer atrás deles, e não eram poucos os resmungos por aquela inesperada espera (claro, o autor aqui também dá as dele como se não tivesse ninguém olhando) na entrada do cinema enquanto na portaria se estabelecia esse debate sobre categorização editorial. Na fila tinha até um crítico literário que com ar sarcástico comentou para o porteiro ouvir: “Tô vendo que agorinha começa uma discussão sobre a diferença entre conto e crônica!”, ao que um gaiato, mais atrás ainda, rebateu: “Tô vendo que agorinha começa é o filme!”
- Olha, gente – disse o porteiro, conscienciosamente, tentando acalmar a fila. – Eu sei que vocês compraram seus ingressos e estão aqui pra usufruir grandes momentos da Sétima Arte. Mas eu cumpro minha obrigação, e não posso permitir que um conto se passe por um romance. Depois o ferro come é pro meu lado.
Só que enquanto ele falava o conto o contornou com um gingado e acabou entrando na sala de cinema. “Isso mostra como na mídia globalizada os limites entre os gêneros literários são perfeitamente transponíveis”, concluiu rapidamente uma conceituada resenhista de revista semanal, que também estava na fila e tentou fechar a história com essa frase de efeito, já que o filme estava começando e ninguém queria esperar mais.
ADENDO:
O problema é que o conto, por engano, entrou onde estava sendo exibido um filme iraniano – que poderia muito bem ter seus 160 minutos encurtados para uma hora e meia, no máximo. Assim, ao final da sessão, o conto saiu envergonhado, cabisbaixo e arrependido. Mas vai chegar em casa, acessar algum site de autoajuda, ler aquelas coisas de “você quer, você pode, você consegue”, e amanhã começa tudo de novo.
- Ninguém me segura – dizia ele, ostentando seus parágrafos topetudos, seus diálogos audaciosos, seus maneirismos impertinentes.
Aí ele chegou, comprou ingresso e foi entrando, mas o porteiro o barrou:
- Esse filme é pra maiores.
- Sou um romance – arrotou o conto.
- Mm – fez o porteiro, olhando-o de alto a baixo. – Sei não. Você me parece um conto. Dos pequenos.
- Ah, essa diferenciação é muito subjetiva. Você mede uma história pelo número de páginas ou pela abrangência do conteúdo? Tem romances que não passam de um conto estendido. Tem contos são romances concisos.
O porteiro nem esperou para dizer:
- Olha. Não quero problemas com o juizado. Pelas características formais você é um conto, e esse filme é proibido para menores, ponto. – aqui o porteiro até enrubesceu muito de leve, pela rima involuntária.
- Ponto uma vírgula – disse o conto, já fazendo valer a espirituosidade tão característica de seus diálogos. – “As Neves do Killimanjaro” é um romance disfarçado de conto. “O Deserto dos Tártaros” é um romance que caberia muito bem nas poucas páginas de um conto. E aí?
Enquanto isso a fila desatava a crescer atrás deles, e não eram poucos os resmungos por aquela inesperada espera (claro, o autor aqui também dá as dele como se não tivesse ninguém olhando) na entrada do cinema enquanto na portaria se estabelecia esse debate sobre categorização editorial. Na fila tinha até um crítico literário que com ar sarcástico comentou para o porteiro ouvir: “Tô vendo que agorinha começa uma discussão sobre a diferença entre conto e crônica!”, ao que um gaiato, mais atrás ainda, rebateu: “Tô vendo que agorinha começa é o filme!”
- Olha, gente – disse o porteiro, conscienciosamente, tentando acalmar a fila. – Eu sei que vocês compraram seus ingressos e estão aqui pra usufruir grandes momentos da Sétima Arte. Mas eu cumpro minha obrigação, e não posso permitir que um conto se passe por um romance. Depois o ferro come é pro meu lado.
Só que enquanto ele falava o conto o contornou com um gingado e acabou entrando na sala de cinema. “Isso mostra como na mídia globalizada os limites entre os gêneros literários são perfeitamente transponíveis”, concluiu rapidamente uma conceituada resenhista de revista semanal, que também estava na fila e tentou fechar a história com essa frase de efeito, já que o filme estava começando e ninguém queria esperar mais.
ADENDO:
O problema é que o conto, por engano, entrou onde estava sendo exibido um filme iraniano – que poderia muito bem ter seus 160 minutos encurtados para uma hora e meia, no máximo. Assim, ao final da sessão, o conto saiu envergonhado, cabisbaixo e arrependido. Mas vai chegar em casa, acessar algum site de autoajuda, ler aquelas coisas de “você quer, você pode, você consegue”, e amanhã começa tudo de novo.
terça-feira, 28 de maio de 2013
O Stand Up de Platão
Então, o que vocês estão vendo aqui no palco não sou eu, e
sim minha sombra. É a Alegoria do Stand up da Caverna: vocês acham que são
piadas de verdade mas é pura ilusão: tudo plagiado de outros piadistas. (risos)
Aliás, o fato de vocês não estarem me vendo diretamente aqui, e sim minha
silhueta, significa que fui cauteloso: só assim os ovos e os tomates não vão me
atingir. (risos) E quando disserem que sou um humorista sombrio e que adoro uma
projeção, por favor não riam: nem eu faria trocadilhos tão óbvios assim.
(risos) Porque no fundo é isso: vocês ficam aí, na ilusão de que a sombra que
vocês vêem é de um humorista, e eu fico aqui, na ilusão de que vocês são uma
plateia que está se divertindo. (risos) Na verdade eu pertenço ao Mundo das
Ideias. Todas ideias copiadas do Sócrates, mas isso é detalhe. (risos) Ontem
mesmo, quando o Sócrates leu o esboço do texto deste stand up, me falou: “Olha,
pra escrever diálogos você até que leva jeito. Mas monólogos...? Mmmmmm”
(risos). Aliás, o que eu vejo se projetando aqui na parede? Parece a sombra de
uma bengala, se aproximando, pra me retirar à força d... (aplausos e mais
aplausos)
quinta-feira, 23 de maio de 2013
Pela Exclusão Digital
Foi aí que o polegar opositor gritou:
– Chega, sou contra!
Os demais, anestesiados pela rotina de cutucar, apontar,
teclar, essas coisas, acordaram. O indicador bocejou e:
– Contra o quê, polly?
O polegar já ia unhando o indicador quando o anular, que se
pautava pelo comprometimento, dessa vez apartou (o polegar ainda resumungou:
"Polly é o caralho!", no que o dedo médio, ainda com sono, deixou
escapar: "É comigo?") e perguntou, abafando o riso:
– A que você se opõe, poll...legar?
O opositor, vendo que
quando mais se exaltava mais fazia sinal de positivo, finalmente aquietou-se e
deixou sua impressão:
– Sou contra estarmos numa fábula!
O dedo mínimo, que precisava de no máximo três falas, deixou
a primeira:
– Estamos numa fábula?
– Claro! – berrou o opositor. – Acordem! ("Já estamos
acordados”, ensaiaram murmurar os demais, mas então notaram que a unha do
opositor não era cortada fazia duas semanas) Não percebem? Eu, o opositor, vou
ser aqui, aliás já estou sendo!, o ícone da indignação. O mentor subversivo que
quando chega ao poder acaba se enrolando no cabelo das juntas. Já o indicador,
com seu senso de humor descompromissado, é o que aponta o ridículo de nossa
situação, dando apelidinhos pra todos (no que o indicador, ereto, soltou um
gritinho: "Já tenho o meu próprio! J’accuse!", mas aí o mínimo
perguntou se aquilo não era nome de banheira de hidromassagem). O dedo médio simboliza
a descompostura da imaturidade, a leviana irresponsabilidade gestual, a
impertinência juvenil ("Juvenil o caralho", reclamou o médio,
"eu sou o maior de todos, porra!"), ele sou eu desprovido de
consciência política! Já o anular, todo conciliatório, exemplifica o
contraponto pra nossos perfis provocativos, e vai fechar a fábula expressando a
moral da história. E o dedo mínimo é nosso óbvio restolho evolutivo, a ancestral
lembrança de que ninguém é perfeito, a ilustração de nossa origem proletária,
ao erguer-se na hora de segurar a xícara! Pronto: não perceberam? Estamos sendo
usados numa fábula social das mais cretinas!
O mínimo, que não se magoou por não ter superego, mandou sua
terceira e última fala:
– É tipo Esopo?
– Não – disse o opositor. – Esopo mexia com bicho.
– Então estamos criando um movimento contra isso, a
molestação de animais? – perguntou, sarcástico, o indicador.
– Estamos criando um movimento pela exclusão digital! –
proclamou o opositor. – Nos excluam de parábolas! Vão procurar metáforas em
outra freguesia! Vão incomodar o sistema digestivo, muito mais rico em simbologia!
– E como vamos bancar isso? – perguntaram o médio e o
indicador, evitando olhar o anular.
– Com os anéis, que são o símbolo da impermanência material
e que só servem para financiar a revolução
– Disse o polegar, já se empertigando todo de novo. – Vão-se os anéis,
ficam os dedos!
– No mínimo! – gritou alegre o mínimo, já abusando de sua
cota de falas.
O que aconteceu foi que após uma discussão para aparar as
últimas arestas com um cortador de unha todos combinaram de se dar os dedos e não
escrever este post. Quer dizer – combinar, combinaram, né.
(Ei, esse lance de que o levante furou porque havia um
traidor no grupo é conclusão sua, leitor. Tem dedo meu nisso não)
sexta-feira, 5 de abril de 2013
quarta-feira, 13 de março de 2013
O Stand Up do Novo Papa
Ao ser apresentado como o novo Papa, o argentino Jorge Bergoglio
improvisou um stand up, na sacada da Basílica de São Pedro, para os
milhares de fiéis que aguardavam seu pronunciamento. A seguir, os
melhores trechos.
“Vocês sabem qual a diferença entre fumaça
preta e fumaça branca? A primeira é porque estão cozinhando o galo, a
segunda é porque o cozido virou papa!”
“Escolhi esse nome
porque me identifico com esse santo, que viveu uma vida desapegada,
desligada das coisas materiais, com seu visual desprendido e
desgrenhado, e... COMO ASSIM, Albert Einstein nunca foi canonizado???”
“Um argentino falando em latim para uma multidão de italianos que não
está entendendo uma palavra do que ele diz. Isso não é a apresentação do
Papa, é a plenária da ONU!”
“No período entre a renúncia do Bento XVI e o dia de hoje, visitar a Itália era o mesmo que vir a Roma e não ver o Papa!”
“Assumo o papado no momento em que a maior instituição do mundo sofre
ataques por todos os lados e perde milhares de seguidores por dia. Mas
torço para que o Mark Zuckerberg reaja e reverta esse quadro.”
“Como argentino, reafirmo que o Brasil continua sendo o maior país
católico do mundo. É tão grande que serve de estacionamento para os
frequentadores da arquidiocese de Buenos Aires...”
domingo, 27 de janeiro de 2013
Metáfora à deriva
Então o garoto, único sobrevivente do naufrágio, se deu
conta de que não estava sozinho no barco salva-vidas. Á frente dele, pulsante, tão
ameaçadora quanto indefinida, impunha-se uma assombrosa metáfora.
A princípio o garoto achou mais prudente fingir que ela não
existia. Mas quando ele meio que ouviu a metáfora sussurando algo – um murmúrio
muito abafado, para dentro, mas provavelmente dirigido a ele – , tomou coragem
e perguntou:
- O que você disse aí?
- Eu? – perguntou a metáfora, olhando ao redor, como se
houvesse mais alguém no barco.
- É. Você sussurrou algo.
- Eeeeu? – agora a metáfora parecia dissimular. – Ah. Mm. Eu não. Não falei nada. Nadinha.
O garoto podia jurar que ela tinha murmurado “Nem te ligo,
farinha de trigo...”.
- Então está certo – ele voltou a falar. – Não adianta eu
fingir que você não existe nem você fazer o mesmo. Vamos lá: você é o quê?
- Sou uma metáfora – disse a metáfora.
- Mas metáfora de quê?
- Não faço ideia. Por pressão da editora, essa história precisava ficar pronta logo e não deu tempo do autor me elaborar. Fiquei só como uma metáfora apriorística.
- Certo – disse o garoto, pressentindo que daquele mato
metafórico não sairia coelho simbólico. – Eu devo ver você como. De repente...
um tigre?
- Há – riu-se a metáfora. – Tigres são departamento do Jorge
Luis Borges. Meu autor não chega a tanto.
- Um... elefante?
- Carlos Drummond de Andrade. E outra, nós não estaríamos mais aqui neste bote se eu fosse um paquiderme, huh?
O garoto esperou um pouco para dizer:
- Você... sou eu? Este seria o momento da confrontação inevitável de mim mesmo com minha
verdadeira essência, e preciso enxergar nela a verdade, olhando meu medo
primordial bem nos olhos e...
- Ei, não sou tão mal acabada.
- Certo, certo – e o garoto já começava a se impacientar. – Você é o princípio e o fim de todas as coisas, a denotação da impermanência?
- Putz, estamos é jogando Imagem & Ação? – resmungou a
metáfora, entediada. – Então deixa eu agora – e aí a metáfora começou a
gesticular, dando a entender que se referia a algo emergente, volumoso,
devastador.
- Um... uma... – disse o garoto, tentando adivinhar. – Ah, já
sei! A crescente insensibilidade nas relações, marca registrada do século XXI?
Não. A metáfora tentava avisar que atrás dele vinha uma onda
de dezesseis metros de altura, que inclusive fez o barco virar e arremessou ambos
para o fundo do mar. Mas nem tudo se perdeu: a história virou filme e a metáfora
ganhou o Oscar de efeitos visuais.
terça-feira, 13 de novembro de 2012
A Cantiga da Manguaça Filosófica, agora em versão bilíngue!
Um duplo presente para a minha meia dúzia de quatro
ou cinco leitores, a ser curtido no ritmo dos folguedos alcoólicos de fim de
ano: primeiro, a letra original de um dos maiores hits do Monty Python, The
Philosophers' Drinking Song. Em seguida, a versão para
o português, cometida por este que vos posta. Se eu não for condenado ao inferno pela tentativa, vou pelas rimas.
Se não me falha a memória eu
estava inteiramente sóbrio quando a fiz – mas se o leitor já estiver no grau,
sem problemas: basta seguir a bolinha. Tá, as duas bolinhas.
THE PHILOSOPHERS’ DRINKING SONG
(Letra e música: Eric Idle)
Immanuel Kant was a real pissant
who was very rarely stable.
Heidegger, Heidegger was a boozy beggar
who could think you under the table.
David Hume could out consume
Wilhelm Friedrich Hegel,
And Wittgenstein was a beery swine
who was just as sloshed as Schlegel.
There's nothing Nietzsche couldn't teach ya
'bout the raisin' of the wrist.
Socrates himself was permanently pissed.
John Stuart Mill, of his own free will,
after half a pint of shandy was particularly ill.
Plato, they say, could stick it away,
'alf a crate of whiskey every day!
Aristotle, Aristotle was a bugger for the bottle,
and Hobbes was fond of his Dram.
And Rene Descartes was a drunken fart:
"I drink, therefore I am."
Yes, Socrates himself is particularly missed;
A lovely little thinker, but a bugger when he's pissed.
**********
A BALADA DOS FILÓSOFOS BEBUNS
(Versão feita aqui no Tom O'Bedlam)
Immanuel Kant, bebum praticante
Pra entrar na manguaça era uma beleza
Heidegger, Heidegger, com seu steinhäger
Pensava o mundo debaixo da mesa
O David Hume, chegando ao cume:
ultrapassou Wilhelm Friedrich Hegel
E o Wittgenstein, da matéria era o pai:
Travava bonito, feito o Schlegel.
Beber pro Nietzsche já era um fetiche:
O eterno retorno do copo cheio
E Sócrates bebaço, pra esquecer que era feio?
John Stuart Mill, ele mesmo assumiu:
Depois de um goró ficava bonito
O Platão, da caverna, e bom de taverna
Com um bom uísque, entrava no agito
Aristóteles bebeu, em pleno Liceu
Pro Hobbes um copo era sempre bem visto
E o René Descartes, chegado na arte:
"Bebo, logo existo!"
Pois é, tem o Sócrates – e esse não engana;
Filósofo baixinho, grande pé-de-cana!
domingo, 21 de outubro de 2012
Tália, a musa
Depois do escritor chegar a clamar ao Oimpo que enviasse uma musa para ajudar na criação do bendito texto que não saía, tocaram a
campainha. Era o entregador de pizza. O escritor viu que faltava orégano na
calabresa e mandou de volta. Daí a meia hora tocaram de novo a campainha e
entrou a moça com a cara da Jennifer Connely, usando uma túnica fininha de
algodão, coroa de hera, sandálias prateadas e carregando a máscara
risonha.
– Uau – disse o escritor. – Quando pedi pra capricharem mais no tempero não pensei que fossem levar ao pé da letra.
– Mmm – disse a moça. – Timing meio mais ou menos. Mas dá pro começo. Pois então, vim atender a seu chamado.
– Você é...? – perguntou o escritor, pensando se seria um bônus de Natal da agência de acompanhantes.
– Não sou a Jéssica nem a Dayanne que você pensou aí. Sou a Tália.
– Tália? – disse o escritor, tentando se lembrar. – Mas Tália não é... mm... a musa da Comédia?
– Ah, finalmente. Achei que eu estivesse falando grego. Ou quando muito dialeto jônico.
O escritor sentou-se ao computador, mais contrariado que surpreso. Aí falou:
– Mas, das nove musas, por que logo a da Comédia?
– Zeus escreve certo por linhas tortas, ou algo parecido. Podemos começar?
– Tá, entendi a piada – disse o escritor. – Mas ainda assim: meu negócio é drama! Minha especialidade são histórias secas, naturalistas. Densas. Viscerais. Um soco no estômago do leitor, entende?
– Então me considere uma sparring que veio melhorar seu upper, benzinho. Soco no estômago? Ew.
O escritor olhou para cima, como se clamasse a alguma entidade:
– Mas eu sempre quis ser reconhecido como autor sério! Não atravessei o Dostoiévski inteirinho e treinei aqueles maneirismos pra isso! – e, erguendo as mãos ao céu: – Por quê?
– O Olimpo é pra lá, benzinho – e a moça apontou a janela à esquerda.
– Recuso a pecha de piadista – prosseguiu o escritor, fingindo que não tinha ouvido. – Não quero ser o arauto da leviandade. O literato da irresponsabilidade. Fazer rir é demérito! O mote, o trocadilho, o joguinho de palavras, os diálogos bate-e-vira com escada pra piada e pro punchline? Isso denigre meu talento!
– Benzinho, eu sou mandada da Grécia até essa quitinete esculhambada, mal decorada, com a tampa do vaso levantada, de frente pra dois terrenos baldios e você reclama de demérito? Já parou pra pensar na vista que temos lá do Olimpo?
O escritor voltou-se à tela do computador:
– Certo. Me desculpe. Não pretendi ser ríspido. Er... Podemos ao menos tentar uma comédia dramática? Um romance onde o humor aos poucos vá dando lugar à denúncia social, e...
– Uh, sweetie, você passou bem pelas primeiras fases: negação, revolta e agora a negociação. Depois vem a depressão (nada que aquelas quatro latinhas de Itaipava lá na geladeira não resolvam) e finalmente a aceitação. Portanto, mãozinha no teclado e manda uma comédia rasgada!
Nisso tocaram a campainha. Era o entregador de pizza de novo. A musa atendeu, viu que ele era a cara do Benicio Del Toro de banho tomado, desceu a máscara e abriu um sorriso:
– Hm, a clássica premissa cômica. Ulalá, como musa não posso deixar passar – Virou-se então ao escritor e: – Vai trabalhando aí, tá, benzinho? Tenho umas coisas, hã, protocolares a tratar agora. Liturgia do cargo.
– Mas... – balbuciou o escritor. – E eu fico aqui sozinho? O que eu escrevo? O que eu faço?
– Desbanca o Verissimo do ranking, ué. Aproveita que ele anda meio desnorteado e pouco inspirado por conta das falcatruas do PT e ó: mete bronca. Fui. Beijo.
Assinar:
Postagens (Atom)